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real-imaginário
real-imaginário. EXPOSIÇÃO DE CHICO DIAZ. Casa da Cidadania da Língua, Coimbra . 12 de outubro a 10 de novembro de 2023
data
outubro 12, 2023 | 17:30 – novembro 11, 2023 | 17:30
Chico Diaz pinta desde a infância. O seu corpo de trabalho carrega dicotomias expressivas, todas encontradas em narrativas oníricas e paisagens que remetem para o ao mundo dos sonhos. Variando desde simbolismos espirituais até horizontes brasileiros, ele é capaz de arquitetar um vocabulário contrastante, muitas vezes oscilando entre figuras sombrias e imagens alegres. As observações de Diaz sobre a nossa realidade se apresentam como encontros transformados, reinventados e às vezes mistificados das suas próprias sensibilidades. O artista, para além de pintor, é um contador de histórias. Ator desde os 14 anos, sua longa carreira de grande sucesso na televisão e no cinema, lhe proporcionou a chance de expressar sua criatividade, porém de maneira mais disciplinada. A pintura, por sua vez, serve como um instrumento mais livre e espontâneo.
As obras selecionadas para esta exposição, compõem um recorte específico da obra do artista, unindo paisagens com figurativismo carregado de simbologias.
Em 2012, o coreógrafo e artista João Fiadeiro, em colaboração com Fernanda Eugenio, executou uma conferência-performance onde apresentava um novo olhar em torno da ideia de “encontros” e sugeria tais encontros como “feridas que de uma maneira tão delicada quanto brutal, alargam o possível e o pensável, sinalizando outros mundos e outros modos para se viver juntos”. Fiadeiro também discorria sobre encontros que emergem a partir de acidentes, resultando em novas existências de pensamento e formas de ver o mundo à nossa volta. Porém, os nossos impulsos em rejeitar e bloquear qualquer tipo de acidentes, ou aquilo que sai fora do “esperado” muitas vezes acaba prevenindo o nascimento de novos encontros e, portanto, de novas “feridas”. Muitas vezes paralisados em nossos próprios achismos, acabamos por manter convicções que poderiam ser revisadas ou até substituídas.
Escolhi este trecho do texto de João e Fernanda como base reflexiva para a obra de Chico Diaz, principalmente pela forma como a poética do artista se apresenta muitas vezes através de encontros que emergem a partir de uma procura inquieta e misteriosa de significados.
Autodidata, o seu trabalho nunca se encontra paralisado em fórmulas ou convicções rígidas, pelo contrário, ele opera como que um convite à fabulação de novas fórmulas, de novas histórias. A partir de observações de seu entorno, se deparando e criando obstáculos no meio do caminho criativo, Diaz busca trazer a fisicalidade de situações por meio da pintura moldando novos “reais-imaginários”. Como uma luta dentro de seu próprio inconsciente, as pinturas se apresentam com traços expressivos, cores vibrantes, rostos misteriosos e paisagens tropicais.
As obras selecionadas para esta exposição, compõem um recorte específico da obra do artista, unindo paisagens com figurativismo carregado de simbologias. Para além da atuação, há uma prática pictórica vibrante que talvez seja o verdadeiro pilar da produção artística de Chico Diaz.
Stephanie Wruck
Curadora da Exposição
A obra de Diaz é livre e surpreendente como é a língua portuguesa.
A pintura de Chico Diaz intriga. Descobria-a, apenas, o ano passado em Óbidos. Quando se pensou em inaugurar a Casa da Cidadania da Língua, em Coimbra, com uma exposição, surgiu a possibilidade de a fazer com Chico Diaz. Foi, assim, surgindo a real-imaginário em diálogo com o artista e a curadora Stephanie Wruck.
A obra de Diaz é livre e surpreendente como é a língua portuguesa. Aberta a muitas influências, atenta à realidade, mas ao mesmo tempo muito espiritual, num contraditório em muito idêntico às variantes da nossa língua. As cores são vibrantes, as figuras misteriosas e as paisagens a lembrarem qualquer país da diáspora.
A Casa da Cidadania da Língua deseja-se que acolha a diversidade, a diferença, a pluralidade descobrindo novos caminhos que se desejam ousados, mas consistentes. Trabalhando dicotomias com entusiasmo e respeito. São muitas as diferenças entre as várias línguas portuguesas e a pintura de Chico Diaz ajuda-nos a sentir que isso pode ser um ponto de partida e não de chegada.
Chico Diaz é ator e contador de histórias. A realidade nem sempre é o que parece. As personagens nunca são as mesmas. O fim é tantas vezes imprevisível. A sua pintura transmite essa dimensão, num cenário diferente. Talvez seja mesmo a sua dimensão mais livre.
As obras selecionadas para esta exposição são ilustrativas de um percurso pleno de simbolismo que em diálogo com a escrita da programação da Casa de Coimbra seguramente encontrará novos caminhos para a língua e a cultura que nos une.
Curador da Associação Portugal Brasil 200 Anos