José Manuel Diogo
Mas como seria possível eu não ter vivido aqui?, exclamou o jovem poeta, rendido à luz dos astros refletidos no rio Mondego, naquela que seria a sua última noite passada no inverno de Coimbra, Era o dia 12 de Março e corria o ano da graça de 1542. Exatamente três décadas depois, volvido o mundo, os Lusíadas de Luis Vaz de Camões veriam primogénita luz.
À medida que o calendário avança para o dia 12 de Março — exatamente dentro de duas semanas — Coimbra prepara-se para celebrar um duplo nascimento: o da obra máxima de Luís de Camões, “Os Lusíadas”, publicada em 1572, e o do próprio vate, cuja genialidade ecoa sempre pelas margens do Mondego.
Mas um dia que já foi de saudar o Papa (1514) ao de fundar Olinda (1535) não é um mero marco no tempo, mas um comprovado portal para a eternidade literária e científica — e é precisamente esta dualidade que será explorada no evento “Camões e a Ciência do seu tempo” — que vai ocorrer no Museu da Água em coimbra.
A cidade, pulsando com o legado de Camões, transforma-se no cenário perfeito para um evento que não apenas honra a data da publicação dos “Lusíadas”, mas também o nascimento do poeta que, tal como as estrelas do firmamento, ilumina ainda hoje o caminho daqueles que estudam a sua obra.
No anfiteatro do Museu, o Professor Carlos Fiolhais, cuja mente brilha com o fulgor da sabedoria acumulada, desdobrará o pano da ciência no Renascimento, enquanto Maria Bochicchio, guardiã da poesia e da retórica camonianas, nos guiará através dos mistérios da relação entre a obra do Poeta e as constelações que ele tanto admirava.
Rui Amado do Coletivo DeclAmar Poesia, com a alma entrelaçada nas palavras do poeta, promete dar vida nova aos versos imortais que Camões um dia sonhou.
No entanto, há mais neste 12 de Março do que apenas o aniversário de “Os Lusíadas”. Como se o próprio tempo se curvasse para homenagear Camões, neste dia podemos também celebrar o nascimento de um poeta, uma nova voz que se eleva para unir-se ao coro dos que cantam as glórias e os mistérios do mundo.
Essa voz que, apesar de separada por séculos do Poeta maior, encontra harmonia nas suas rimas e ritmos, mostrando que a poesia, como a física, é um fio que liga passado, presente e futuro.
Será um evento de celebração, mas também de reflexão. Dia onde a poesia de Camões e a majestade do cosmos se entrelaçam, mostrando que a ciência e a arte não são mundos à parte, mas sim partes de um todo maior que nos define enquanto seres humanos.
“Camões e a Ciência do seu Tempo” , integrado na programação “Camões 500” da Casa da Cidadania da Língua em Coimbra, promete ser uma viagem ímpar do passado ao futuro, do futuro ao presente, da ciência à poesia, do Mondego para o mundo.
À noite, o céu de Coimbra será um palco repleto de estrelas, e no terraço do Museu, os participantes serão convidados a olhar para cima, contemplando o mesmo firmamento que inspirou o Poeta.
Lá, onde o Mondego se encontra com o céu, poderemos sentir a presença quase tangível de Camões, que, em sua eterna busca por conhecimento e beleza, parece de novo perguntar: “Mas como seria possível eu não ter vivido aqui?”
Publicado originalmente no Diário de Coimbra