“Se me fosse deixado decidir se deveríamos ter um governo sem jornais ou jornais sem um governo, não hesitaria um momento em preferir o último.” A reflexão de Thomas Jefferson, embora seja um eco do passado, ressoa fortemente no presente, especialmente à luz dos recentes acontecimentos em Portugal, onde o empobrecimento do jornalismo de qualidade tem sido uma preocupante realidade.
Recentemente, testemunhamos um momento histórico com o “Jornal de Notícias” (JN), um dos mais antigos e respeitados jornais de Portugal que, pela primeira vez na sua história – 136 anos – não se publicou dois dias consecutivos.
Também primeira vez em 35 anos, o JN não chegou às bancas, resultado de uma greve dos trabalhadores em resposta a um anunciado despedimento coletivo pelo Global Media Group, que ameaçava o emprego de cerca de 150 trabalhadores, incluindo 40 do próprio JN.
Esta greve, com uma adesão próxima de 100%, não foi apenas um ato de protesto contra as demissões, mas também um símbolo da luta pela preservação da qualidade e integridade no jornalismo.
A situação do JN é um microcosmo do que está acontecendo no jornalismo globalmente. Com a digitalização e as mudanças no modelo de negócios da mídia, jornais tradicionais estão lutando para sobreviver. E, quando essas instituições sofrem, toda a sociedade sofre junto. O jornalismo de qualidade é essencial para a manutenção de uma sociedade informada e uma democracia saudável. É um guardião contra os excessos do poder e um fórum para o debate público.
A greve no JN é um lembrete pungente de que o jornalismo não é apenas uma profissão; é um pilar essencial da democracia. Sem ele, perdemos mais do que apenas uma fonte de notícias; perdemos um elemento vital que contribui para a saúde e o bem-estar de nossa sociedade. O episódio do JN destaca a necessidade urgente de apoiar e revitalizar o jornalismo de qualidade, assegurando que ele continue a desempenhar seu papel crítico na sociedade.
Portanto, assim como Jefferson valorizava a presença de jornais até mesmo acima de um governo, devemos reconhecer e valorizar o papel insubstituível que um jornalismo forte e independente desempenha em nossa sociedade. A crise enfrentada pelo Jornal de Notícias é um chamado à ação para todos nós que valorizamos a informação confiável, a análise profunda e o debate saudável, elementos fundamentais para a manutenção de uma sociedade democrática e informada.